2015 exigirá remédios amargos para “sarar” economia

São Paulo – Do meio de todas as divergências de ideários que marcaram o embate entre campanhas nessas eleições, emerge um consenso: a economia brasileira está numa armadilha de desaceleração do crescimento e alta da inflação. Desatar esse nó será o desafio do novo governo. Passado o embate eleitoral, é chegada a hora de separar o que é discurso de campanha e o que deve e pode ser feito para “sarar” o doente.

Analistas e consultores da área econômica ouvidos por EXAME.com são unânimes em afirmar que 2015 precisa ser um ano de ajustes e reformas (algumas amargas) para reduzir a inflação, retomar credibilidade e atrair investimentos.

CORTES SEVEROS

O primeiro desafio chama-se ajuste fiscal. “O Brasil vem passando por um processo amplo de expansão fiscal, que segue duas óticas: aumento de gastos e redução de alíquotas. Isso tem que ser revisto, ainda que a gente entre em um mundo mais complicado”, diz o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria.

Reduzir despesas de custeio da máquina governamental, nos gastos com pessoal e também com programas sociais são medidas necessárias, segundo o economista, que alerta para a trajetória crescente do endividamento público do país. Não mudar essa rota implica risco do Brasil ter sua classificação de crédito (ou rating) rebaixada.

“É claro que ao limitar gastos, o governo acaba batendo em várias frentes. Mas o ano ruim é necessário para começar a colher bons frutos. Sem isso, teremos um cenário continuamente ruim”, reforça.

Para o economista da FGV/IBRE Vinicius Botelho, as várias desonerações feitas pelo governo nos últimos anos, como a do IPI de veículos e da folha de pagamento, levaram a uma arrecadação menor, que contribui para o superávit primário baixo (economia para o pagamento de juros da dívida pública).

“Os impostos colocados para reposição dos que foram exonerados não tiveram impacto semelhante na arrecadação. Isso leva à necessidade de aumentar impostos”, acredita.

Segundo ele, reduzir despesas é mais difícil, já que algumas são vinculadas ao crescimento do PIB nominal, como os gastos com saúde.

“Além disso, temos a tendência de envelhecimento da população, que diminui a arrecadação. Esse [aumento de imposto] é um ajuste inevitável. Se o governo não fizer isso, o mercado responderá do seu jeito”, afirma.

Botelho defende que, no momento atual, o urgente é tirar a economia do lugar ruim e colocar num trilho bom, do que necessariamente chegar ao destino. “Nós ainda temos margem de manobra, nossa divida pública ainda é baixa. Mas a partir do momento em que a nossa margem de manobra piorar, podemos voltar a viver o pesadelo de deterioração da economia”, alerta.

De acordo com o presidente da Strategos Consultoria, Telmo Schoeler, um aumento da carga tributária inviabiliza as empresas e faz o Brasil perder competitividade.

“Em matéria de imposto, só existe um caminho, redução de carga tributária. O que deve sustentar um país é o somatório de suas empresas e não o governo. Num país como o Brasil, vamos ter que pensar quem manda aqui. Se é o cidadão, que vota, você deve reduzir imposto. Esta é uma reforma que terá que ser feita”, defende.

SUBSÍDIOS

Como o consumo das famílias é parte importante do PIB, nos últimos quatro anos, o governo lançou mão de desonerações e subsídios, como os dados à gasolina e eletricidade, para estimular a produção e o consumo.

Tais medidas não saem de graça. O passivo de desonerações e subsídios para o próximo governo é estimado em pelo menos R$300 bilhões.

“Tal realidade traz à tona a necessidade de realinhamento dos preços administrados”, destaca Clodoir Vieira, da Compliance. “É preciso corrigir a defasagem nos preços.”

“O aumento da gasolina tem que vir. A Petrobras do jeito que está não aguenta, ela está ficando sem capacidade de investimento e precisa voltar a ter lucro. Sem isso, ela perde capacidade de investimento e corre risco de estagnar no futuro”, diz.

A alta da eletricidade também é necessária, segundo ele. “A sociedade ainda vai ter que pagar por isso. Vai ser amargo principalmente para as industrias porque gera aumento do custo fixo. Mas não tem como evitar esse reajuste”, acredita.

Botelho, da FGV/IBRE, adverte que o não reajuste da eletricidade ou da gasolina acaba levando ao aumento da demanda em momento de escassez. “O reajuste dos preços faz com que os setores reflitam sua real rentabilidade”, explica.

Pelos cálculos de Jensen, da Tendências, tal liberação pode fazer com que a inflação fique um pouco acima da meta, em 6%. “Mas é um caminho para trazer a inflação para o centro da meta nos próximos anos”, pondera.

O economista defende que, para aliviar o orçamento, o governo também precisa mexer na política parafiscal, que envolve a capitalização dos bancos públicos.

“É fundamental que o Brasil pare de emitir dividia para capitalizar bancos públicos, que chegam a 10% do PIB. Isso não pode continuar, tem custos. Esse tipo de capitalização precisa ser interrompido, paro o banco voltar a viver do próprio rendimento”, sugere.

Para ele, o banco estatal BNDES deveria trabalhar com restrições, direcionando seus investimentos para onde os benefícios sociais são maiores, como em projetos de infraestrutura.

Em grande medida, a atuação do BNDES nos últimos anos contribuiu para abalar a credibilidade do governo, segundo os analistas.

Os cenhos franzidos voltaram-se para a controvertida política de criação de “campeãs nacionais”, onde o estado investia em algumas empresas do setor privado a fim de criar gigantes brasileiras para competir no mercado externo.

Vinicius Botelho, da FGV, critica tais práticas voluntariosas de estímulos, defendendo a horizontalização das políticas de incentivos.

Segundo ele, as condições de acesso das empresas precisam ser mais justas e ter limites. “Quando diminui o nível de concessão, você faz com que os empresários sejam mais produtivos do que simplesmente ir pedir empréstimo em Brasília”.

 A NOVA CLASSE

Ao contrário do que pensa boa parte dos analistas ouvidos pela reportagem, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, avalia que o próximo governo vai ter uma margem muito pequena do ponto de vista macroeconômico para fazer ajustes severos. O maior desafio, para ele, será lidar com a “classe C”.

Perfeito explica que o surgimento dessa nova classe gerou queda na rentabilidade da economia. Quando o salário sobe, em geral, a margem de lucro cai. Mas esse processo está sendo mais forte do que o pensado.

Ao mesmo tempo, a elevação do consumo tem gerado constrangimento na inflação. Como moderar o consumo dessa classe sem que o salário suba fortemente, questiona.

“Vai elevar a taxa de juros e transformá-la em d e e de novo? Não dá pra subir mais a taxa de juros. A desaceleração da economia é resultado da elevação da taxa de juros, que já saiu de 7% pra 11%. É uma mudança estrutural que desafia o governo vindouro”.

“Em contrapartida, o consumo das famílias também já cresceu bastante e não é razoável pensar que vai continuar igual”, pondera. “O próximo presidente não tem margem pra fazer muita coisa. Mas seja qual for a mudança, ele tem que fazer isso de forma suave pra não matar a última fonte”, conclui.

Para sarar o doente, também é preciso saber dosar o remédio.

Fonte: Exame

Curitiba testa sistema construtivo, inédito no país, para habitações de interesse social

Usabilidade de casas construídas com painéis de fibra em vidro, resinas epóxicas e polisocianurato serão avaliadas por empresa que detém a patente da tecnologia

O sistema construtivo Inovatec System, inédito no Brasil, está sendo testado em Curitiba para construção de casas populares. A empresa IT Sistemas Construtivos doou para a administração municipal quatro residências, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), para avaliar o método que usa como estrutura uma combinação de painéis de fibras de vidro, resinas epóxicas e poliisocianurato, esta uma espuma isolante, confeccionados na indústria e levados para montagem no canteiro de obras. A tecnologia permite que uma edificação seja construída em 48 horas.

Nesse método construtivo, a única estrutura que se assemelha ao método convencional é a fundação radier, laje de concreto armado sobre a qual são instaladas as placas de compõem a madeira. Canaletas de vidro e resina são colocadas na fundação e nelas são encaixados os painéis que formam as paredes da casa. A fixação de painéis é feita com cola especial, de grande resistência, que já vêm com as instalações elétrica e hidráulica. A tecnologia tem um exclusivo sistema de soldagem química a frio.

A agilidade do processo construtivo, a limpeza do canteiro de obras e a economia de recursos são os principais benefícios desse sistema construtivo. Enquanto no modelo de alvenaria convencional a perda de materiais é em torno de 30%, nesse modelo ele varia entre 2% e 3% do total. As habitações implantadas por meio do sistema são projetadas para resistir às diversas catástrofes naturais, suportando ventos de até 250 km/h.

As famílias beneficiadas com as casas na capital paranaense não pagarão pela construção, apenas pelo terreno. A empresa, detentora da patente da tecnologia, vai realizar avaliações periódicas sobre as condições de uso das casas junto aos moradores, que faziam parte do cadastro emergencial do serviço social da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab). O cadastro contempla famílias em situação de risco físico ou social, com atendimento prioritário.

Fonte: PiniWeb

Desaquecimento da construção aumenta em setembro, diz CNI


Brasília – O desaquecimento da indústria da construção civil se ampliou em setembro, de acordo com sondagem divulgada nesta segunda-feira, 27, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Em uma escala na qual valores abaixo dos 50 pontos indicam retração, a atividade no setor no mês passado registrou 42,3 pontos.

O desempenho foi ainda pior que o obtido em agosto, quando o índice ficou em 43 pontos.

Com o uso da capacidade instalada do setor estável em 67% no mês, também ampliou-se o ritmo de demissões na indústria da construção.

Novamente na escala na qual 50 pontos significa a manutenção das vagas de trabalho no setor, o indicador ficou em 43,1 pontos em setembro.

Isso significa uma queda no emprego mais intensa do que a verificada em agosto, quando índice registrava 43,5 pontos.

O resultado do mês passado mostra que o nível de atividade na indústria da construção continua se afastando do usual para o período do ano.

Se, em agosto, essa diferença equivalia a um indicador de 41,4 pontos, em setembro o índice ficou ainda pior, com 38,8 pontos, muito distante da linha divisória dos 50 pontos que indicaria estabilidade.

De acordo com a sondagem, a margem de lucro operacional das empresas do setor também ficou menos satisfatória em setembro, bem como a situação financeira das firmas.

Para piorar o cenário, os empresários continuam reclamando do acesso ao crédito em um ambiente de aumento acelerado dos preços das matérias-primas.

Expectativas

Diante dos resultados adversos que persistiram em setembro, todas as expectativas medidas pela CNI para o setor ficaram mais pessimistas em outubro.

A estimativa quanto ao nível de atividade para os próximos meses, por exemplo, piorou de 48,4 pontos para 47,3 pontos, indicando que o empresariado continua esperando uma retração do setor no período à frente.

Da mesma forma, a expectativa quanto a novos empreendimentos piorou, de 48,5 pontos para 47,4 pontos, o que reflete também nas estimativas para compras de insumos, que caíram de 47,5 pontos para 46,5 pontos em outubro.

Com a disseminação do pessimismo no setor, a probabilidade de continuidade nas demissões também aumentou, já que o índice expectativa de emprego também ficou pior, de 47,7 pontos para 46,8 pontos.

Fonte: Exame

Mecanização depende não só de investimento em equipamentos, mas de projeto logístico e racionalização do canteiro

O uso de equipamentos de movimentação na construção civil (sobretudo gruas, elevadores de cremalheira e plataformas de trabalho aéreo) aumentou significativamente nos últimos dez anos. Porém, de acordo com especialistas, esse dado não reflete uma maior industrialização do setor. A maior parte das máquinas existentes no mercado ainda opera nos canteiros das grandes construtoras e incorporadoras, em geral, empresas que já utilizam diversas ferramentas de gestão, projeto e processos construtivos visando a racionalizar suas obras e já compreendem as vantagens financeiras e econômicas do uso desses equipamentos. Para aumentar a produtividade, essa é uma importante barreira a ser superada.

‘As pequenas e médias construtoras, na sua grande maioria, ainda não fazem uso desses equipamentos. Há muito empirismo, muita repetição de modelos, sem preocupação alguma com produtividade’, explica Nilton Nazar, professor do Instituto Mauá de Tecnologia. Para o engenheiro, há uma distinção clara entre os segmentos de obras residencial e industrial no tocante ao planejamento de canteiro. ‘Nos setores industrial e comercial, o uso de peças pré-moldadas, que condicionam o emprego de máquinas de movimentação, é comum, enquanto as edificações residenciais ainda são construídas de modo artesanal’, lembra.

Fonte: Construção Mercado